sexta-feira, 25 de junho de 2010

A redenção das sete artes: música



Parece que a partitura da consciência artística dos cristãos, que estava em branco faz muito tempo -- sem nenhuma referência a Cage -- começa a ganhar alguns rabiscos, ainda que sejam pausas.

Debater sobre artes no meio cristão não é tarefa simples, nem mesmo para os melhores artistas, ou melhor, principalmente para eles. Sempre em tema dissonante, a música tem passado por um período de deserto na consciência cristã, especialmente com a dicotomia criada entre sagrado e secular.

Falar sobre a redenção da música cria em nossa imaginação as mais diversas impressões. Se falamos em redenção é porque entendemos que toda a natureza é caída e que, consequentemente, essa queda chegou ao mundo sonoro ou a nossa percepção do mesmo.

Porém, falar em redenção gera em nós a ilusão de que é possível chegar em algo que seja certo, um padrão. E, tratando-se de música, a ideia de que chegaríamos a um padrão estético referente e ideal. Alguns cristãos começam a levantar os braços com a possibilidade de serem os artistas cristãos que possuem a música ou o CD mais redimido. Isso pode gerar confusão, ou melhor, mais confusão. Mas isso não traria nenhuma novidade à mentalidade artística da igreja atual. Outros já começam a pensar nos morros do Rio de Janeiro ouvindo e tocando Bach diariamente, já que a música redimida seria aquela “mais pura”. E continuaremos dando ouvidos a nossa visão eurocêntrica ou estrangeira do mundo.

Começar a falar sobre redenção na música exige corações redimidos, que entendem que Cristo veio para nos dar vida, para fazer com que nós, sua criação humana, voltemos a viver hoje parte daquele projeto original que ele viu e disse que era “muito bom!”. Música, antes de tudo, tem a ver com a vida, com vivê-la e experimentá-la em toda a sua potencialidade. Música tem a ver com o ser ser humano.

A redenção deve começar, antes de tudo, em nossas mentes encarceradas, no revisar do nosso olhar sobre o mundo e sobre o homem, em nossos conceitos sobre adoração e sobre vida. Caso contrário, nossa música continuará abafando a voz do oprimido que escancara na arte sua condição de perdido ou passando a ideia arrogante de que apenas cristãos transpiram a soberana arte divina.

Isso faz-nos pensar em algo que é realmente relevante: uma música nasce com a combinação de muitos elementos e todos precisam trabalhar em prol do outro. Nesse processo, as pausas são fundamentais. Não chegaremos a lugar nenhum sem diálogo, respeito, crítica e diversidade.

Que nossas melodias, sobrepostas às de Schaeffer, Card, Tillich, se tornem agradável harmonia aos ouvidos do Senhor.

Que possamos desfrutar e produzir arte, celebrando a vida -- graça concedida a todos os homens.


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